terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre a grama e a estupidez


Certa vez, logo quando me mudei para Jacaraípe, recebí a visita de meus irmãos – coisa normal, pois MINHA casa frequentemente é confundida com NOSSA casa de praia –, e estava a trabalhar em meu quintal.

Como a casa havia ficado vazia por quatro meses, era normal que a propriedade estivesse com um aspecto não muito agradável: havia entulho espalhado pelo quintal, galhos e folhas secas espalhadas pelo chão e muita erva daninha no gramado, que por sinal cobria apenas dois terços da propriedade. O terço restante estava coberto por uma grossa camada de mato, devido à falta de manutençao da limpeza e também ao tempo chuvoso que fez durante os meses de abandono.

O terço do quintal coberto por mato desde o início indicava ser a parte mais difícil do trabalho, razão pela qual decidí concentrar os meus esforços nesta área. A primeira tarefa foi lipar o mato que impedia a abertura do portão. Este trabalho parecia infrutífero, pois poucos dias após capinar a área, o mato tornava a crescer e bloqueava o portão novamente, exigindo um novo esforço. Concluí que era necessário arrancar o mato pela raiz, um trabalho de formiguinha.

Haviam quatro pessoas no quintal, e apenas uma pessoa (eu) se peocupava em tornar o ambiente mais agradável. O resto observava em silêncio o meu esforço.

Bem, o silêncio durou pouco. O pequeno grupo entediado logo encontrou no trabalhador solitário, que perdia seu tempo numa tarefa tão inútil quanto contar grãos de areia na praia, um assunto perfeito para uma conversa.

Um aspecto curioso da natureza humana é que as pessoas apresentam grande resistência em gastar seu tempo e esforço para ajudar alguém a desempenhar uma tarefa, por mais simples que ela seja; mas não hesitam em perder mais tempo ainda criticando puramente o trabalho alheio. Diziam que aquela era a pior forma de fazer o trabalho, que levaria dias para concluir a tarefa, que era melhor pagar alguém para fazer o trabalho e que eu logo desistiria. Enfim, falaram por um longo tempo. Eu apenas escutava e continuava o trabalho.

Passado algum tempo, levantei-me e começei a juntar o mato arrancado num saco de lixo. O trabalho havia sido concluído. Mas o grupo continuava a discutir, sem se dar conta do que estava acontecendo. Algum tempo depois, levantaram-se, abriram o mesmo portão que eu havia desbloqueado e foram todos à praia.

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