Dos traumas que desenvolví em minha adolescência, nenhum foi mais devastador do que a minha “monicofobia” (medo de Mônica). Tudo por causa de uma música que fez bastante sucesso na época: “Eduardo e Mônica”, da banda Legião Urbana.
Me lembro que na sétima série, ano que marcou o ápice da humilhação na escola, a música tocava nas rádios o tempo todo. Não havia um dia sequer que não ouvisse alguém cantarolando ou assobiando a canção pelos corredores ou pátio da escola.
Lembro também que nessa época os garotos da minha turma estavam todos com os hormônios fervilhando, e eu não era excessão. Cabe ressaltar que no meu tempo os garotos eram mais bobos (e inofensivos) que os de hoje em dia. Perdiamos muito mais tempo falando de garotas do que falando com as garotas. Bem, nessa época pensávamos que sexo oral era falar de sexo…
Não bastava eu me chamar Eduardo, ser gordinho e andar com meus amigos semi-nerds Andersons (Anderson Pilon e Anderson Almeida), com os quais vivia apostando quem tirava as maiores notas; experimentava, pela primeira vez que me lembro, um amor platônico pela professora de ciências, a Flávia.
Ela era perfeita: loira de olhos azuis, cabelos levemente ondulados, corpo escultural, inteligente, engraçada. E eu, bem era eu…
Nem precisa dizer que, numa turma composta por 55% de meninos, ela era a professora preferida da turma. Mas haviam garotas na turma também, e algumas delas bonitinhas. Lembro da Rogéria e da Fernanda, filha do professor de educação física.
Bem, o fato é que eu não tinha chance alguma com nenhuma garota que eu conhecia, quem dirá com a professora Flávia. Cheguei inclusive a pensar que eu não teria chances com garota alguma. Infelizmente (isso mesmo,infelizmente!) eu estava errado. Havia uma garota com a qual eu podia ter alguma chance.
Ela era da oitava série e já tinha quatorze anos, e sempre que eu passava perto dela, podia ouvir ela cochichar algo no ouvido da irmã e dar uma risadinha. Sempre desconfiei que ela estava rindo de mim, e por isso tratava de desaparecer o mais rápido possível.
Um dia não consegui me esquivar, e me ví preso entre elas no estreito caminho para o pátio externo. Para minha surpresa, ao invés de começar a zombar de mim, ela foi bem legal. Perguntou o meu nome, do que eu gostava, e um monte de outras coisas que não me lembro. Por fim ela disse que me achava bonitinho.
Reagí da única forma possível: fiquei parado com cara de besta sem dizer absolutamente nada por um bom tempo. Não sabia se tinha entendido direito, nem o que dizer ou fazer. Ela foi embora e eu continuei lá, parado no corredor sem dizer nada.
Dois dias depois as coisas tomaram um novo rumo. Passei a conversar cada vez mais com ela antes da entrada e durante o recreio. Um dia finalmente domei coragem e disse que também achava ela gatinha, e chamei ela pra passear depois da saída.
Não era bem um encontro, só fomos dar uma volta na pracinha de Paul, perto da escola mesmo. Pra minha surpresa, mal descemos a escadaria, havia toda uma legião de seguradores de velas indo atrá da gente, dentre os quais pude identificar quase todos os garotos da minha sala, Fernanda, Rogéria e mais um monte de garotas que eu sabia ser da sala dela, inclusive sua irmã.
Para o meu azar, só percebí os intrusos quando já era tarde: eu estava já segurando as mãos dela e a meio caminho de um beijo, que foi constrangedor devido ao coro de “beija,beija”. Foi o primeiro e pior beijo que dei em toda minha vida. Para piorar, um dos garotos da minha sala, o Luciano, começou a cantar “…Eduardo e Monica...”, sendo seguido imediatamente pelos demais. Os garotos podem ser bastante cruéis na sétima serie.
Constrangido, nervoso e me sentindo miserável, dei por acabadoo nosso passeio e corrí pra casa sem nem sequer me despedir. Só parei de correr quando cheguei à porta de casa, sem fôlego e com a cabeça pesada.
Não fui à escola no dia seguinte. Me fingi de doente, e minha mãe acreditou sem questionar. Na segunda-feira, todo mundo que eu conhecia, e até quem eu não conhecia, parecia empenhado em me sacanear, cantando trechos da música ou comentando coisas como “tá namorando!”. E eu não era o único alvo. A Mônica estava passando por maus bocados na sala dela também.
Ela não falou comigo por um longo tempo, e nunca rolou mais nada entre nós. Depois disso passei a não gostar de Legião Urbana, de “Eduardo e Mônica”, do pessoal da minha sala e, principalmente, de qualquer garota chamada Mônica.
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